O
espetáculo Penélope Vergueiro é
inspirado num fato presenciado na Rua Vergueiro, em 2005: um veículo avança o
sinal vermelho, cruza a avenida e colide com outro veículo estacionado. O
inusitado é que o primeiro veículo colide inúmeras vezes no outro carro,
tentando mesmo atropelar o motorista, para então entender-se que o motorista do
primeiro carro é a esposa traída que pega o marido em flagrante com a amante.
Penélope Vergueiro destrincha o acontecimento amoroso e os seus
desdobramentos, transformando um fato cotidiano caótico, um acidente de carro,
em possibilidades e olhares diversos sobre a mesma mulher e o seu amor
vivenciado. A peça aponta diversas facetas desse feminino e suas relações
amorosas, colocando o público como um observador ocular, testemunha e recriador
de cada ação. O quebra-cabeça sobre o amor e suas possibilidades, ou sobre o
desamor e seu desencontro social é montado por cada olhar que ali se encontra
como testemunha da arte e do ato performático presente. A história está lá,
roteirizada, descrita, mas o acontecimento cênico é único, e exige de cada
espectador sua contribuição como fazedor artístico e fruidor.
Encenada
para palcos cuja proximidade entre público e atrizes seja quase imperceptível, a
peça explora as lacunas do tempo, a
possibilidade performativa das atrizes em detrimento do contato real e
constante com o público, e também as diversas experiências narrativas, seja o
canto, a voz falada, o corpo, a imagem e o contato.
"O apaixonado é, portanto, artista e o seu mundo é bem um mundo às avessas, pois toda a imagem é o seu próprio fim (nada para lá da imagem)".
Roland Barthes em Fragmentos do Discurso Amoroso
Penélope
Vergueiro é
o caleidoscópio de imagens cujo fim é a própria imagem, como um carro que
colide noutro e só quem presencia sabe o som produzido porque depois serão
apenas restos e cacos sobre o asfalto. Como um acontecimento único, que só quem
está presente pode vivenciar, é que a peça apresenta-se ao público, partícipe
espontâneo e indesejado, como qualquer pessoa que ao andar pelos quarteirões de
sua cidade pode ser ao deparar-se com a teatralidade inesperada e constante das
ruas.
O espetáculo fez sua estréia em 2011, com o apoio da Secretaria da Cultura, contemplado pelo Edital dos Teatros Distritais de São Paulo. Realizou sua estréia e temporada durante o mês de outubro no Centro Cultural São Paulo, com 14 apresentações, e uma média de público de 800 pessoas.
Ficha Técnica
Direção e Dramaturgia - Carlos
Canhameiro
Pensamento Corporal e
Dança - Andréia
Yonashiro
Atrizes - Erika
Coracini, Paula
Carrara, Rimenna
Procópio
Iluminação - Daniel
Gonzalez
Consultoria de Imagem - Monica
Zaher